sexta-feira, 12 de junho de 2009

Blues Laborais

Há que elogiar o pessoal que anda por aí a fazer as letras para as músicas actuais…
A profundidade… O sentimento… A maneira como escrevem coisas sem sentido e fazem dinheiro com isso, também quero aprender…
Quem é que lhes compra as letras?
No outro dia estava no trabalho quando na rádio passou uma música…mas…

Antes de mais, penso que é melhor explicar, que no meu trabalho, eu não tenho direito a escolher a música. Eu trabalho numa sala rodeado por oito mulheres, o que em termos de selecção musical, para alguém que como eu aprecia rock e metal, é o inferno.
E não posso usar headphones.

Durante todo o dia tenho de ouvir André Sardet, Paulo Gonzo, Alejandro Sanz, Jason Mraz, Anastasia, Mika, etc.
Na verdade essas músicas não são assim tão más quanto isso, eu sou capaz de as ouvir… pelo menos uma vez por mês…
Agora, quando chegamos ao extremo de ouvir as mesmas músicas três a quatro vezes por dia… tenho vontade de bater com a cabeça na parede até a dor parar.
E nem sequer vou comentar a “Abbamania” que se gerou em redor do filme “Mamma mia”.
Eu cresci a ouvir essas músicas…tinha boas recordações delas...
Subitamente alguém decidiu ir à arrecadação, vasculhar os velhos vinis, fazer um musicalsito que tanto quanto eu sei, a única coisa que tem a ver com os Abba é o facto de espetarem lá com as músicas deles e de no fim todos dançarem em fatos de lantejoulas, et voilá, os Abba estão de volta, e eu passo a ter de ouvir o “Mamma mia” cinco vezes por hora…

Tenho a certeza que a Declaração Universal dos Direitos Humanos enquadra esse tipo de acção no mesmo nível que assistir ao jornal nacional, ou seja, tortura…, como recordações as músicas eram giras, como tortura arruínam essas recordações e mais uma vez, tenho vontade de bater com a cabeça na parede até a dor parar…
Tudo para a dor parar…
Mesmo grandes clássicos como "As Meninas da Ribeira do Sado" se tornam repetitivos depois de ouvidos 500 vezes...

Bom. Mas como eu disse inicialmente, estava eu a trabalhar quando na rádio passa uma música, dos “Azeitonas” de nome “Quem és tu miúda”, que vem aumentar de forma inexorável o meu sofrimento.
Aqui vai um pouquinho desta pequena maravilha:


“E até as flores do jardim
Mudam de cor, ao ver-te assim
Eu já não posso mais conter
Esta ansiedade de te ver
Quem és tu...
Quem és tu...miúuuuda
Nesse sobressalto, desse salto alto
Quem és tu...miúuuuda
Que me atormentas, em câmara lenta
Quem és tu...miúuuuda
Miúda quem és...”

Isto levou-me a tomar uma decisão que poderá mudar o rumo da minha vida.
Acho que estou pronto a tentar a minha sorte no mundo da música contemporânea portuguesa, e aqui estão as primeiras rimas:

Bebé
Eu sei que me curtes bué bué
Não ligas ao meu cheiro a chulé
E gosto tanto do teu cafoné

Coração
És a minha paixão
Não importa o teu hálito de cão
O amor contigo é tão bão

Estrela
És tampa p’á minha panela
As tuas cuecas parecem uma vela
Gosto de ti como de moela

Nina
És a minha garina
Não importa que sejas albina
Nem que o teu rabo tenha buzina

Flor
Quero que me cures este ardor
Com penicilina “faxabor”
Que este inchaço causa-me dor

Ainda estou a trabalhar nos próximos versos, princesa e dama, mas estou bastante esperançado que me descubram e me lancem para a ribalta, porque penso que mereço, tenho pelo menos tanto talento como essa criança do primeiro ciclo do ensino básico que anda por aí a fazer quantias exorbitantes de dinheiro a escrever músicas assim para as bandas do futuro…

DuVall DuForno

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Gosto tanto da nossa comunicação social como de pombos

No passado dia 01 de Junho caiu, no meio do Atlântico, um avião da Air France, com cerca de 216 passageiros e 12 membros de tripulação, sem dúvida uma tragédia de envergadura, que deixa o mundo de luto, ou pelo menos quase todo o mundo.
Alguns órgãos de comunicação social noticiaram o seguinte:

12:30 – Governo não sabe se há portugueses a bordo
15:05 – Existia uma passageira com destino a Lisboa
15:28 – Há Português no avião
18:10 – Afinal o português não embarcou no voo Air France
Toda uma nação respira de alívio.
Dia seguinte – Não era português, mas tinha ascendência portuguesa, e além disso, viajava no avião, o quarto na sucessão ao trono de Portugal… que… também não era… errrrrrr… português.

“A Air France e o Ministério dos Transportes francês divulgaram a contagem oficial dos passageiros, por nacionalidades. Assim, no voo 447 seguiam: 59 brasileiros, 72 franceses, 26 alemães, nove chineses, nove italianos, seis suíços, cinco libaneses, cinco britânicos, quatro húngaros, três irlandeses, três noruegueses, três eslovacos, dois espanhóis, dois marroquinos, dois polacos, dois norte-americanos, um sul-africano, um argentino, um austríaco, um belga, um gambiano, um islandês, um filipino, um romeno, um russo, um turco, um canadiano, um estónio, um holandês, um sueco, um dinamarquês, um croata.”

Pois, nenhum português…

Subitamente, para alguns, a tragédia é não haver nenhum português a bordo.
A desilusão de alguns destes jornalistas, ressentidos por não termos nenhum representante português no acidente, foi bem palpável, até os imagino a pensar:
“Bolas, 228 e nem um… gaita. - Bom! A sorte vende quase tanto como a desgraça. - Tudo bem pessoal, afinal não havia mesmo nenhum português a bordo, era o 229º, só que não é bem português, não vão acreditar porque é que ele não embarcou…”
Esquece a tragédia, temos é de descobrir porque é que este gajo não embarcou.

Mas que raio?!
Será que estão a tentar dar um pequeno “twist” positivo a estas notícias negativas?!?

Esta vai ser o tipo de informação que vamos passar a ter:
“Não seguia no avião nenhuma ninhada de cachorros, de gatinhos, ou de qualquer espécime protegido, nem qualquer outra criatura remotamente fofinha e querida.
Seguiam sim no voo, 228 seres humanos e desses temos cá aos pontapés. Para mais nenhum era português. Não perca a notícia de destaque, uma entrevista com o cidadão da Suazilândia, que perdeu o avião por pura sorte, e cuja namorada tem uma amiga que namora com um rapaz que conheceu um cidadão português!”


Brilhante!


DuVall DuForno